Em uma entrevista de emprego, preferências culturais e
atividades de lazer podem ter mais peso do que qualificações para a vaga. De
acordo com uma pesquisa publicada no periódico científico American Sociological
Review, os avaliadores mostram-se mais interessados em contratar uma pessoa que
gostariam de ter como amigo (ou parceiro romântico), do que alguém que tenha as
melhores qualificações para o cargo.
Durante o levantamento de dados, a pesquisadora Lauren
Rivera, professora de Sociologia na Northwestern University, nos Estados
Unidos, usou informações colhidas em 120 entrevistas com empregadores de bancos
de investimento, escritórios de direito e consultorias financeiras nos Estados
Unidos. Todos os entrevistados eram responsáveis pela contratação de candidatos
em início de carreira em suas empresas.
As empresas, de ponta em suas respectivas áreas,
conferiam um peso considerável à qualificação dos candidatos, incluindo
aspectos como notas na universidade e conhecimento prévio das atividades
relacionadas à vaga. “Obviamente, os empregadores estão em busca de pessoas que
tenham um padrão mínimo de habilidades para realizar o trabalho”, diz Lauren
Rivera. “Mas, além disso, os empregadores também querem pessoas com quem eles
possam estabelecer laços, em cuja companhia eles se sintam bem. Portanto, eles
não contratam necessariamente os candidatos mais bem qualificados.”
As entrevistas revelaram, de acordo com Rivera, que mais
da metade dos avaliadores no estudo aplicou um conceito chamado de `adequação
cultural` como o mais importante critério em uma entrevista de emprego. Um dos
entrevistados, de um escritório de direito, explicou o conceito da seguinte
maneira: `Nos nossos novos colaboradores, estamos antes de tudo procurando por
compatibilidade cultural. Alguém que... se encaixe”. De acordo com Rivera, essa
noção de adequação cultural é baseada em preferências de lazer e referências
culturais. “Foi um conceito-chave na avaliação das firmas`, escreve a autora no
estudo. “Não significa que os profissionais estão contratando pessoas sem
qualificação. Mas parecem eleger de uma maneira que mais se assemelha à escolha
de amigos ou parceiros românticos.”
Ao site da rede americana NBC, a professora diz ter se
surpreendido com o modo aberto com o qual os entrevistadores assumiram dar peso
a características afetivas. “Eu esperava que as pessoas fossem mais reservadas
em abordar isso. Mas me parece que faz parte do jogo: `eu preciso me dar bem
com você.`”
Rivera aponta algumas das coisas em comum que podem fazer
a diferença na identificação de empatia: “Os dois têm o mesmo nível de educação
formal? Os dois gostam das mesmas atividades de lazer? Gostam de falar um com o
outro?”
Ela ressalta que seu estudo se focou em empresas da área
de negócios e de advocacia nos Estados Unidos. Ainda assim, os resultados
poderiam ser parecidos em outros ramos. “Acredito que o processo é
generalizado, mas o peso das afinidades pode variar de ocupação para ocupação.
Se você está contratando um neurocirurgião, acredito que há mais ênfase nas
qualificações e no desempenho do que na empatia.”
Fonte: Comportamento - Revista Época -
03/12/2012 - Rio de Janeiro, RJ