Por Adan Soares
A rede social é “a mocinha” ou a “vilã” da sua vida profissional? Em um cenário no qual os internautas estão cada vez mais preocupados com a sua imagem no mundo virtual, a tendência é de que ela seja uma grande aliada. Isso porque a exposição, antes pessoal, passa a dar lugar a uma vertente mais profissional. Segundo pesquisa da F-Secure, empresa de soluções de segurança para o espaço digital, 86% dos brasileiros se preocupam com dados pessoais em sites de relacionamento e 43% consideram estar “perdendo o controle” sobre informações compartilhadas nessas redes.
Outros
dados apontam que 81% dos brasileiros têm receio em relação a quem acessa suas
fotos e vídeos e 75% dos participantes preocupam-se com o backup das suas
informações. Para o diretor-presidente da Webconsult, Leornado Bortoletto, a
mudança de comportamento é justificada pela percepção dos usuários com relação
ao poder que cada informação tem para transformar para o bem ou para o mal a
vida pessoal, e, principalmente, profissional de cada um. Por isso, a
recorrente dica de pensar antes de postar fotos e comentários em qualquer
espaço virtual volta à cena.
Bortoletto
comenta que ao optar pela circulação de seu currículo via internet (como no
LinkedIn, por exemplo), o candidato fica vulnerável a ser submetido a uma
segunda etapa na qual as empresas costumam humanizar e confirmar as informações
dadas por meio de redes sociais. “Ao fazer um currículo às pessoas são mais
tendenciosas, então é comum o cruzamento de informações daquilo que a pessoa
escreve em seu currículo com o que é dito e feito por ela na internet para
checar a veracidade das informações”, diz.
Fotos,
vídeos e comentários são verificados pelas empresas de recrutamento e seleção,
mas também pelos próprios colegas do círculo de trabalho. A principal dica para
quem é usuário de redes sociais é para que se relacione e se posicione diante
de assuntos pertinentes ao seu dia a dia, mas com ponderação.
Para
fazer uso de forma sadia, o primeiro passo é definir o objetivo para o qual vai
se expor em uma rede social, se vai utilizá-la para fins pessoais ou
profissionais. O segundo é sempre filtrar as informações antes de publicá-las.
“O problema não é a rede, e sim a falta de bom senso de algumas pessoas que
usam as redes sem tomar ciência do alcance das informações”, pondera
Bortoletto.
Indicação
Como
profissional de recursos humanos, João de Avelar Andrade, coordenador do curso
de tecnologia em gestão de recursos humanos do Centro Universitário Newton
Paiva, observa mudança muito rápida na indicação de pessoas para o mercado de
trabalho. “Antes ela acontecia por carta de recomendação ou por meio de
contatos do dia a dia. Mas estamos vendo essa indicação migrar para as redes
sociais”, afirma. Algumas empresas, diz, têm uma pessoa especificamente para
fazer busca nas redes sociais de candidatos e empregados, como LinkedIn,
Facebook e Twitter.
A
consultora de recursos humanos Sara Rios alerta que são necessários cuidados
com as informações divulgadas na rede. “Elas compõem o perfil, caráter e
valores da pessoa. Tudo isso é avaliado”, diz. “É preciso cuidado com o que
você curte”, completa Hegel Botinha, diretor comercial do grupo Selpe.
Ele
afirma que já presenciou caso em que um executivo perdeu uma vaga porque
divulgou na rede que gostava de esportes radicais. “Como a oportunidade era
para empresa de seguros, eles acharam que não era recomendado contratar a
pessoa com esse perfil”, diz Botinha.
Sem
separação Com as redes sociais funcionando como uma extensão da vida real da
pessoa é difícil separá-la do mundo profissional, avalia Thiago Miqueri, diretor
da Plan B Comunicação, empresa da área digital. “Você não consegue reunir 400
amigos na mesa de boteco para discutir sobre política. É uma oportunidade de se
posicionar, pois sua opinião é amplificada”, observa. Para ele, cada profissão
tem um grau de importância nesse ambiente. “Os publicitários, por exemplo,
aproveitam para saber quais iniciativas estão influenciando sua rede.”
Outras
profissões também têm as redes sociais como aliadas, avalia Andrade. “Muitos
movimentos sociais começam pelas redes. Se um policial está acompanhando as
tendências nas redes sociais, pode conseguir neutralizar muitas ações”, afirma
Andrade. No caso dos professores, diz, há um retorno maior do que está
ocorrendo no ambiente acadêmico. “E para os profissionais de moda, as
comunidades sugerem o que está em alta no gosto do público”, avalia. A sua
principal dica para o profissional que está na rede é a seguinte: “Não faça na
rede social o que não faria no mundo real”.
Atenção
para excessos
Na
contramão do comportamento da maioria dos usuários está o consultor em gestão
de negócios Michel Souza, que desde que criou perfis no Facebook, Twitter,
Thumblr e LinkedIn optou por dar um tratamento menos pessoal às ferramentas.
“Não adiciono parentes e evito adicionar colegas de trabalho porque não acho
interessante perder posicionamento diante dessas pessoas”, explica. “Não deixo
de postar o que quero, mas penso duas vezes antes de emitir minha opinião sobre
qualquer assunto”, acrescenta. Michel comenta que o perfil mais interessante é
daquele se expressa utilizando informações relevantes sobre a sua área de
atuação.
Um
dos bons exemplos da rede é o da professora universitária Vânia Myrrha, que usa
o Facebook, o Twitter, um blog e o LinkedIn para se relacionar com seus alunos.
Nada formal Vânia mantém a mesma postura nas redes, mas “sem confundir as
coisas”. Na internet, compartilha conteúdo extra de suas aulas, manda recados
para alunos e até recebe trabalhos acadêmicos, mas tudo sem deixar a amizade de
lado. “Não é porque sou professora que preciso ser sisuda, dá para manter uma
boa relação com eles”, garante. “Posto fotos pessoais, mas tudo com moderação”,
completa. Para a professora, o ideal é que as pessoas consigam utilizar todas
as potencialidades da ferramenta sem se exceder e aproveitando as oportunidades
de relacionamento e profissionais que surgem do contato virtual.
Já
a médica Melissa Machado Viana é adepta de várias redes sociais: LinkedIn,
Facebook, Twitter e Research Gate. Ela é especializada em genética e conta que
as redes são usadas tanto para a parte profissional quanto pessoal. “Na minha
área é preciso ter muito contato para saber o que está acontecendo de novo”,
afirma.